
Hoje cheguei à conclusão que a nossa vida é suportada por memórias! Diria mesmo que cerca de 80% dela são episódios, experiências e tempos antigos que teimam em regressar, sempre que podem, ao nosso pensamento, deixando-nos, por um lado, felizes e por outro, nostálgicos.
Quantas vezes utilizamos frases como "Ainda me lembro quando..." ou "Tenho saudades de..."? Quantas vezes não damos por nós a esboçar aquilo a que eu chamo de "sorriso estúpido" e nos perdemos lá bem no fundinho da nossa alma, só nós e os nossos pensamentos? Quantas vezes não passamos, propositadamente, naquele lugar que nos conhece melhor do que qualquer pessoa e onde já vivemos tanto? Ou quantas vezes já um sítio se tornou tão importante e especial por apenas 5 minutos passados lá, mas que valeram por horas?
Pois é, hoje foi um desses dias! Não para mim como protagonista, mas como espectadora da partilha de memórias, momentos, locais e experiências de uma única vida, de uma única pessoa que me fez sentir, de certa forma, lisonjeada por isso.
É tão bom ver como se iluminam e sorriem as pessoas cada vez que trazem à tona memórias passadas e as relatam de uma forma tão peculiar e real que nos fazem sentir quase como se estivessemos lá, naquele momento, naquela parcela de vida.
Ocorre-me uma frase: "Aqui até as pedras da calçada sabem o meu nome!". Muitas vezes é assim, não é? E nós gostamos de saber isso!
Eu, como qualquer pessoa, tenho as minhas próprias memórias e gosto de lhes fazer replay vezes e vezes sem conta. Gosto de revisitar lugares antigos, gosto de ser invadida por "sorrisos estúpidos" ocasionais, gosto de dizer "Um dia ainda me vou rir com esta situação" e confirmá-lo mais tarde, gosto, mais do que tudo isso, de pensar que as memórias que possuo já ninguém mas tira e que, independentemente, do que acontecer no futuro, vou tê-las sempre como objecto de conforto.
É verdade que as memórias podem ter o seu lado nostálgico e, de certa forma, menos bom. Podem lembrar-nos que crescemos, que nos tornámos, forçosamente, adultos e responsáveis, que os lugares já não são os mesmos, que as pessoas já não as mesmas, que a inocência e os sonhos se dissiparam...Podia ficar aqui, até amanhã, a inúmerar aspectos, mas não o vou fazer! Prefiro ficar-me pelo bom que têm as memórias, pela vontade incontrolável que nos dão de viver tudo outra vez, ainda que por breves momentos, de estalar os dedos e estar de novo naquele local, com aquela(s) pessoa(s), com aquele cheiro e toda a sequência de acontecimentos.
Prefiro ficar-me pelo positivismo, já que foi isso que me transmitiu o dia de hoje.
A melhor forma de terminar será, com certeza, com uma frase que, um dia, a minha mãe disse e que até hoje permanece numa das gavetinhas do meu cérebro: "Um dia passamos a viver só de memórias" - uma frase tão simples, tão pequena e com tanto significado. Eu concordo que um dia acabará por ser assim. Faz parte da natureza humana e para já, não vejo nenhum mal nisso, até porque, boas ou más, são as memórias que projectam o retrato de uma vida, que dão sentido a cada ruga que surge e que nos definem enquanto pessoas.
Carolina Rocha